A primeira imagem, refere-se ao filme "Into the Wild", que, pessoalmente, gosto bastante, por explorar a realidade da procura total pela liberdade e o corte de laços com a civilização urbana, completamente dependente de bens materiais. É uma escolha de vida, na procura pelo auto-conhecimento, e descoberta de quem somos e que marca queremos deixar no mundo. Desta forma, a imagem original, é-nos apresentada com tons claros, suaves, que transmitem uma sensação de paz, de equilíbrio, de tranquilidade, de realização, que, de certa forma, é tudo aquilo que o filme pretende passar para o público. Todavia, o caminho não foi fácil, houveram muitos precalços na jornada e próprio fim, não é, de igual forma, motivador e positivo. Dessa forma, optei por explorar esse lado, da dificuldade, de quem nem sempre o caminho final é aquele que sempre sonhamos.
Assim, a carrinha adoptou um tom vermelho, mas afecto à fatalidade do que o verde original que transmite tranquilidade e esperança. Os vidros foram esfumados e escurecidos, para transmitir a ideia de abandono e de sujidade, bem como o bege que se tornou mais acastanhado para transmitir esse mesmo efeito. O céu adoptou um tom frio, cinzento de tempestade, como que ameaçando a chuva, enquanto que o rapaz foi também ele "escurecido" para dar a ideia de "não presença", quase como se tivesse envolvido num mutismo interior de arrependimento e medo pelo fracasso dos seus objectivos. Todavia, em contrapartida, tornei a camisola verde, com um pouco mais de luminosidade e menos contraste que o corpo do rapaz, para demonstrar que, não importa o quão longe estejamos, quantas dificuldades encontremos, quantos medos nos impeçam de continuar, há sempre esperança para nós em algum lugar, a felicidade será sempre possível. Só temos que lutar e procurar o que verdadeiramente queremos para nós no mundo.
A segunda imagem refere-se a um outro filme que vi uma vez com os meus pais e que me chamou em muito à atenção pelos cenários e pelas cores que eram, todas elas, muito monocromaticas, muito semelhantes, muito "descolores".
Nesse caso, acabei por pegar na imagem pertencente à capa do filme, com uns tons muito esverdeados e acastanhados, muito linear e monótona que, em todo o caso, se encaixa com a ideologia do filme que não é muito alegre, nem uma história de amor convencional - centra-se na vida de um jovem casal que só descobre que se amam verdadeiramente, depois que são obrigados a mudar para uma província chinesa assolada pela peste, já que o marido é médico e é destacado para curar e salvar as vítimas. Durante anos, viveram na mentira, na infidelidade, até que, nesse local, percebem que já é pouco o tempo que lhes resta para consumar o amor que parecia estar adormecido entre eles.
Dessa forma, como a descoberta desse amor é tão genuína, tao envolvente, tão cativante, decidi "colorir" a imagem de modo a destacar esse amor, essa descoberta, esse romantismo. Todavia, a tarefa não se revelou muito fácil dada a tonalidade praticamente semelhante de todo o ambiente envolvente.
Todo o ambiente sofreu uma "coloração", como a água do rio, e toda a vegetação envolvente, assumindo o carácter de "fim de tarde" que é, regra geral, um dos momentos preferidos pelos namorados, devido à sensibilidade e romantismo que o pôr-do-sol acarreta. As roupas também abandonaram os tons pestilentos e simples, nomeadamente o vestido da rapariga que assume um tom quente e brilhante de vermelho, e as calças do rapaz que se tornam mais clássicas, num elegante tom negro. A minha ideia era explorar a máxima, um tanto cliché, de que o amor move montanhas e muda corações, trazendo alegria e cor à vida daqueles que amam verdadeiramente. Ao mesmo tempo, foi ideia pegar no título do filme "O Véu Pintado", e "pintar" a história, demonstrando que um "véu" nem sempre precisa ser linear, transparente e monótono.
A imagem contempla uma criança, atrás de uma árvore, com as unhas cravadas no tronco. Toda a imagem está a preto e branco, e transmite a ideia da necessidade que a criança sente de se agarrar à vida, já que nunca foi possuidora de uma infância verdadeiramente feliz, na sua ideia. No universo do livro, aquele árvore, que é cortada no início do livro, quando a "criança" já é crescida, materializa a sua infância. o corte da árvore torna-se num dos momentos mais arrepiantes da sua vida, em que ela ve a sua vida fugir-lhe por entres os dedos.
Assim, a minha ideia é transmitir precisamente o contrário. Através da cor, "animar" a imagem, transformando-a na capa de um livro de histórias para crianças, onde a criança está a brincar às escondidas e convida o seu "jovem leitor" a juntar-se a ela, através do apelo colorido das letras "Escuta".
A relva assumiu um tom verde brilhante e viçoso e o tronco um castanho saudável que confere "vida à árvore".
Inicialmente, a ideia era transformar também o vestido, em laranja ou azul turquesa mas como este apresenta uma tonalidade mais luminosa de um lado e mais escura do outro e, depois de várias tentativas, achei por bem desistir da ideia que tornava a imagem muito cansativa e pesada e manter o vestido branco que transmite aqui, não a ideia de tristeza, mas de inocência e sensibilidade tão comuns nas crianças.